terça-feira, 21 de junho de 2011

PRECE DO CÃO ABANDONADO



Sabe, Senhor, ainda não entendi. Viemos à praça, pensei ser um passeio. Estranhei, ele não tinha esse hábito, mas fui feliz. Lá chegando, me deu as costas, entrou no carro e nem disse adeus.

Olhei para os lados, nem sabia o que fazer.

Ainda tentei seguí-lo, quase fui atropelado.

Que teria eu feito de tão mal? À noite, quando ele chegava, abanava o rabo, feliz, mesmo que ele nunca viesse ao quintal me ver. Às vezes eu latia, mas tinha estranhos no porão, não podia deixá-los entrar sem avisar meu dono. Quem sabe foi minha dona que mandou, devia estar lhe dando trabalho. Mas não as crianças, elas me adoravam. Como sinto saudades! Puxavam a minha cauda, às vezes. Eu ficava uma fera, mas logo éramos amigos novamente. Creio que elas nem sabem, devem ter dito que fugi.

Estou faminto. Só bebo água suja, meus pêlos caíram quase todos. Nossa!!!! Como estou magro! Sabe, Pai, aqui nesse canto que arrumei para passar a noite faz muito frio, o chão está molhado.

Creio que hoje vou me encontrar contigo. Aí no céu meu sofrimento vai terminar. Mesmo em espírito vou ter permissão para ver as crianças.

Peço-vos, então, não mais por mim, mas pelos meus irmãozinhos. Mande-lhes pessoas que tenham compaixão deles. Como eu, sozinhos não viverão mais do que alguns meses na Terra do Homem. Amenize-lhes o frio, igual ao que agora sinto, com o calor dos atos de pessoas abençoadas. Diminui-lhes a fome, tal qual a que sinto, com o alimento do amor que me foi negado. Mata-lhes a sede, com água pura de seus ensinamentos transmitidos pelo homem.

Elimine a dor das doenças, extirpado a ignorância da terra. Tire o sofrimento dos que estão sendo sacrificados em atos apregoados como religiosos, em laboratórios e tudo mais, tirando das mãos humanas o gosto de sangue. Ampare as cachorrinhas prenhas que verão suas crias morrerem de fome, frio e pestes, sem nada poderem fazer. Abrande a tristeza dos que, como eu, foram abandonados, pois entre todos os males o que mais doeu foi esse.

Recebe, Pai, nesta noite gélida, a minha alma, pois não será mais meu o sofrimento, mas dos que ficarem, e por eles vos peço.

Autor Desconhecido

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