o começou com a ocupação de ilhotas no nordeste da Itália. Para lá fugiram habitantes da região do Vêneto, temendo as hordas de bárbaros que tomaram conta da Europa a partir do século 5. As ilhas fizeram parte do Império Bizantino até o início do século 9, quando Veneza tornou-se independente. Logo, todas as áreas de terra firme das ilhas foram ocupadas e a cidade precisava crescer. A saída foi então avançar sobre as águas que separavam as ilhas. Para isso, os venezianos desenvolveram um sistema para aterrar as áreas alagadas anexas às porções de terra e assim foram estreitando a distância entre as ilhas, delineando canais e ganhando espaço para abrigar povoamentos maiores. Graças à localização privilegiada - no meio da rota entre o Oriente e o Ocidente -, excelentes navegadores e poderio militar, a cidade tornou-se um próspero centro mercantil e naval a partir do século 11. Essa condição só foi abalada quando os portugueses descobriram uma rota alternativa para o Oriente, circundando a África. Em 1797, com sua força militar já abalada, a cidade foi conquistada por Napoleão e, em seguida, passou a integrar o território austríaco. Só em 1866 foi incorporada à Itália.
Caminho das águas
Veneza transformou água em solo e agora luta contra a revanche das marés
ATÉ O SÉCULO 7: DESVIRGINANDO AS ILHAS
No meio de uma lagoa de água salgada com saída para o mar Adriático, 65 pequenas ilhas serviram de base para a formação da cidade atual. Os primeiros habitantes viviam basicamente da pesca e da extração de sal - fundamental para a conservação da carne dos peixes e um valioso produto de troca. As primeiras localidades densamente povoadas na lagoa não fazem parte do atual centro histórico de Veneza. As ilhas que correspondem hoje aos bairros de San Polo e San Marco - os principais da cidade atualmente - só bombaram em um período posterior a esse primeiro povoamento
A PARTIR DO SÉCULO 9: PEDRA SOBRE PEDRA
A população aumentava e novos espaços tinham que ser criados para construções. A solução foi expandir as porções de terra firme e até criar novas ilhas por meio de aterramento. Essa estratégia de ocupação encurtou a distância entre algumas ilhas, formando canais e possibilitando o surgimento de construções maiores. Veneza só começou a ser construída pra valer em 810, quando Rialto virou o centro administrativo da cidade. Veja abaixo o passo a passo de como eram feitos os aterros:
1. Os novos limites foram traçados a partir de pilares de madeira. Eles tinham de 3 a 4,5 metros de comprimento e eram fincados no caranto, camada subterrânea de argila compactada. Os milhares de pilares enterrados e submersos até hoje ficam completamente sob a água. Sem contato com o ar atmosférico, eles não apodrecem
2. Tábuas de madeira colocadas em cima dos pilares serviam de apoio para blocos de pedras calcárias, extraídas de Ístria (atual território da Croácia). O fundamento de pedra barrava a passagem da água, possibilitando o posterior depósito de terra - extraída do fundo da lagoa - entre essa barragem e a ilha
3. Quando a terra chegava ao topo da barragem (pouco acima da água), paredes de tijolos eram erguidas, estabelecendo os novos limites da ilha. Dessa forma, surgiram canais estreitos entre as ilhas e passarelas foram construídas para conectar uma a outra. Mesmo assim, os barcos continuavam a ser o principal meio de locomoção
HOJE: PATRIMÔNIO EM RISCO
O centro histórico de Veneza ocupa hoje uma área de aproximadamente 7,6 km2 e é formado por 117 ilhas muito próximas, recortadas por 150 canais. Devido aos crescentes custos de moradia, inundações freqüentes e envelhecimento da população, o número de moradores caiu pela metade nos últimos 40 anos - são 62 mil, atualmente. Se continuar nesse ritmo, especialistas estimam que até 2030 Veneza seja uma cidade ocupada exclusivamente por turistas - 50 mil visitam a cidade diariamente
Veneza tem 409 pontes. A do Rialto, inaugurada em 1591, foi a primeira a transpor o canale grande, que cruza a cidade inteira, e atinge até 106 metros entre uma margem e outra. Atualmente, é proibido construir novas pontes e edificações no centro histórico, para preservar a antiga estrutura da cidade
Embora hoje seja possível cruzar a cidade a pé - carros, bicicletas, skates e afins são proibidos -, os venezianos ainda dependem muito das embarcações como meio de transporte. Além das tradicionais gôndolas, circulam pelos canais barcos particulares a motor ou a remo e o vaporetto, uma espécie de ônibus aquático
Enchentes são comuns na cidade, principalmente nos últimos cem anos, em que a cidade afundou quase 23 centímetros: 7,5 cm em função da elevação do nível das águas e mais de 15 cm em razão da compressão natural do solo somada à exploração de poços artesianos. Quando a maré sobe mais de 80 cm, locais mais baixos, como a praça San Marco, alagam
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